30 outubro 2010

Deus

Nunca aprendi a existir.

(Fernando Pessoa, Pessoa por Conhecer, vol. II, 17, p. 30)

27 outubro 2010

História

O historiador é um homem que põe os factos nos seus devidos lugares. Não é como foi; é assim mesmo.

(Álvaro de Campos, Aforismos e afins, p. 41)

24 outubro 2010

Discussão do Orçamento de Estado 2011

[...] esta fúnebre marcha de títeres tristes que é o deslizar diário da nossa vida nacional.

(António Mora, Pessoa por Conhecer, vol. II, 231, p. 273)

21 outubro 2010

Fernando Pessoa em Nova Iorque

Vídeo de Ricardo Cobra.
Poema de João Pedro Pais cantado por Ana Moura


http://www.youtube.com/watch?v=kc7iJQFPmaw

18 outubro 2010

476 anos do “Affaire des Placards”, afixação de cartazes críticos da doutrina católica nas ruas de Paris (1534)

[...] O cristismo é a inversão dos valores humanos. Não submergiu a sociedade, porque a sociedade tem, na sua própria constituição como tal, a maior defesa contra o cristismo. Não matou a vida humana. porque, para ser vida, ela tem que não deixar-se morrer. O cristismo nasceu na época da decadência romana. Ainda, na sua forma católica — a mais abjecta de todas, porque o protestantismo de certo modo impôs uma disciplina por via do seu latente paganismo nórdico — a religião cristã é uma religião da decadência romana. Quem vive dentro do cristianismo, vive ainda no império romano em decadência. Da sua origem o cristismo guarda os seus característicos. O que o berço dá a tumba o leva.

(António Mora, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, 249)

17 outubro 2010

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Excepto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).

(Álvaro de Campos, Poesia, 64, p. 297)

16 outubro 2010

156 anos do nascimento de Oscar Wilde (1854)

[...] Wilde, que nunca foi uma figura de destaque na literatura inglesa, mas apenas na sociedade inglesa e no meio literário londrino — o que não é a mesma coisa. A sua prosa pesada cai ou manca na civilização inglesa; [...]

(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 244, p. 390)

13 outubro 2010

120 anos do “nascimento” de Álvaro de Campos (1890)

Assinatura de Álvaro de Campos


Carta astral de Álvaro de Campos,
manuscrita por Fernando Pessoa*


* Em carta a Adolfo Casais Monteiro, datada de 13 de Janeiro de 1935, Fernando Pessoa apresenta uma cronologia ligeiramente diferente: Álvaro de Campos teria nascido à 1h30 da tarde do dia 15 de Outubro. (Fernando Pessoa, Correspondência (1923–1935), 162, pp. 344–345)

10 outubro 2010

Dia Mundial da Saúde Mental

A alma humana é um manicómio de caricaturas.

(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 242, p. 238)

07 outubro 2010

Prémio Nobel da Literatura

[...] Estou agora completando uma versão inteiramente remodelada do Banqueiro Anarquista; essa deve estar pronta em breve e conto, desde que esteja pronta, publicá-la imediatamente. Se assim fizer, traduzo imediatamente esse escrito para inglês, e vou ver se o posso publicar em Inglaterra. Tal qual deve ficar, tem probabilidades europeias. (Não tome esta frase no sentido de Prémio Nobel imanente.) [...]

Referi-me, como viu, ao Fernando Pessoa só. Não penso nada do Caeiro, do Ricardo Reis ou do Álvaro de Campos. Nada disso poderei fazer, no sentido de publicar, excepto quando (ver mais acima) me for dado o Prémio Nobel. [...]

(Fernando Pessoa, Correspondência (1923–1935), 162, pp. 339–340)

05 outubro 2010

100 anos da Implantação da República (1910)

Num mar de mijo havia um penico sem tampa
Mesmo tapado tinha o que contém: só trampa.
Dum malídoro vento ele boia ao sabor
Que em si tem incerteza;
Eis o símbolo (deixo o detalhe ao leitor)
Da monarquia portuguesa.

(Joaquim Moura Costa, Pessoa Inédito, 202, p. 341)


Ilustração de Fernando Carvall

Monarquia Portuguesa vs. Primeira República: descubra as diferenças

[...] A República Velha falhou mesmo como fenómeno destrutivo: destruiu mal e destruiu por maus processos.

Destruiu mal porque destruiu pouco. Destruir a Monarquia não é só tirar o Rei: é também, é sobretudo substituir os tipos de mentalidade governantes por outros tipos de mentalidade. [...]

(Fernando Pessoa, Da República (1910–1935), 98, p. 243)



A República Velha nada alterou das tradições desonrosas da Monarquia. Mudou apenas a maneira de cometer os erros; os erros continuaram sendo os mesmos. Em vez de um regime católico, um regime anticatólico, isto é, um regime que logo arregimentava como inimigos os católicos. Em vez de uma República portuguesa, de um regime nacional, uma república francesa em Portugal. E assim como a Monarquia Constitucional havia sido um sistema inglês (ou anglo-francês) sobreposto à realidade da Pátria Portuguesa, a República Velha foi um sistema francês sobreposto à mesma realidade pátria. No que respeita aos erros de administração — a incompetência, a imoralidade, o caciquismo — ficámos na mesma, mudando apenas os homens que faziam asneiras, que praticavam roubos e que escamoteavam “eleições”. De sorte que a República Velha era a Monarquia sem Rei. [...]

(Fernando Pessoa, Da República (1910–1935), 101, p. 249)

03 outubro 2010

100 anos da morte de Miguel Bombarda (1910)

[...] The Portuguese Monarchy was overthrown by two regiments, two cruisers and a handful of civilians. The Portuguese Revolution, which no one expected, was caused by the shooting of a Republican leader, Prof. Bombarda, director of the Lisbon Lunatic Asylum, by a madman — an act which no one connected, or thought of connecting, with politics. Out of such minorities, and of such absurdities, does triumph emerge. [...]

(Fernando Pessoa, Da República (1910–1935), 120, pp. 367–368; em inglês no original)


[ [...] A Monarquia Portuguesa foi derrubada por dois regimentos, dois cruzadores e uma mão-cheia de civis. A Revolução Portuguesa, que ninguém esperava, foi causada pelo assassinato de um líder republicano, o Prof. Bombarda, director do Hospital Psiquiátrico de Lisboa, por um louco — um acto que ninguém ligou, ou pensou ligar, à política. De tais minorias, e de tais absurdos, é que o triunfo emerge. [...] ]

(p. 372; tradução com alterações)

01 outubro 2010

Pessoa, sempre — todos os dias: Outubro de 2010

Calendário pessoano: Outubro de 2010
Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.