31 agosto 2012

145 anos da morte de Charles Baudelaire (1867)

[...] Quem não pode fazer versos como Baudelaire pode, porém, tingir os cabelos de verde. [...]

(Fernando Pessoa, “A Imoralidade das Biografias”,
Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, VI, 12, p. 132)

28 agosto 2012

263 anos do nascimento de Johann Wolfgang von Goethe (1749)

Há três tipos de cultura — a que resulta da erudição, a que resulta da experiência translata, e a que resulta da multiplicidade de interesses intelectuais. A primeira é produzida pelo estudo paciente e aturado, pela assimilação sistematizada dos resultados desse estudo. A segunda é produzida pela rapidez e profundeza naturais do aproveitamento do que se lê ou vê e ouve. A terceira é produzida, como se disse, pela multiplicidade de interesses intelectuais: nenhum será profundo, nenhum será dominante, mas a variedade alargará o espírito. [...] Vemos a terceira em Goethe, que nem tinha a erudição de Milton nem a ultra-assimilação de Shakespeare, mas cuja variedade de interesses, abrangendo todas as artes e quase todas as ciências, compensava na universalidade o que perdia em profundeza ou absorção.

(Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, VI, 9, p. 128)

26 agosto 2012

Final da Volta a Portugal em Bicicleta 2012

Fernando Pessoa a andar de triciclo
Fernando Pessoa aos 6 anos


(Fotobiografias do Século XX: Fernando Pessoa, p. 28)

23 agosto 2012

Dia Internacional de Recordação do Tráfico de Escravos e sua Abolição

[...] A escravatura é lógica e legítima; um zulu ou um landim não representa coisa alguma de útil neste mundo. Civilizá-lo, quer religiosamente, quer de outra forma qualquer, é querer-lhe dar aquilo que ele não pode ter. O legítimo é obrigá-lo, visto que não é gente, a servir os fins da civilização. Escravizá-lo é que é lógico, o degenerado conceito igualitário, com que o cristianismo envenenou os nossos conceitos sociais, prejudicou, porém, esta lógica atitude. [...]

(Fernando Pessoa, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 72, p. 217)

21 agosto 2012

72 anos do assassinato de Leon Trotsky por agentes de Estaline (1940)

Dos Trotskys de qualquer colónia
Grega ou romana já passada,
O nome é morto, inda que escrito.

(Álvaro de Campos, “Gazetilha”, Poesia, 77, p. 328)

20 agosto 2012

20 Ago. 1905: Fernando Pessoa regressava definitivamente de Durban

«Cheguei a Lisboa, mas não a uma conclusão»*
Pintura de Norberto Nunes


* (Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 16, p. 57)

19 agosto 2012

Dia Mundial da Fotografia

Painting will sink. Photography has deprived it of many of its attractions. Futility of silliness has deprived it of almost all the rest. [...]

(Fernando Pessoa, “Erostratus”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, VIII, 37, p. 210;
em inglês no original)




[ A pintura afundar-se-á. A fotografia tirou-lhe muitos dos seus atractivos. A futilidade da idiotice tirou-lhe quase tudo o mais. [...] ]

(idem, p. 259; trad. Jorge Rosa)

16 agosto 2012

145 anos do nascimento de António Nobre (1867)

Quando ele nasceu, nascemos todos nós. A tristeza que cada um de nós traz consigo, mesmo no sentido da sua alegria é ele ainda, e a vida dele, nunca perfeitamente real nem com certeza vivida, é, afinal, a súmula da vida que vivemos — órfãos de pai e de mãe, perdidos de Deus, no meio da floresta, e chorando, chorando inutilmente, sem outra consolação do que essa, infantil, de sabermos que é inutilmente que choramos.

(Fernando Pessoa, “Para a memória de António Nobre”, Crítica, p. 101)

14 agosto 2012

Iconografia pessoana

Pintura de Bottelho

13 agosto 2012

51 anos do início da construção do Muro de Berlim (1961)

O olhar não atravessa os muros da sombra,

(Álvaro de Campos, Poesia, 25, p. 190)

12 agosto 2012

2041 anos da morte de Cleópatra (30 AC)

Na sombra Cleópatra jaz morta
Chove.

Embandeiraram o barco de maneira errada.
Chove sempre.

Para que olhas tu a cidade longínqua?
Tua alma é a cidade longínqua.
Chove friamente.

E quanto à mãe que embala ao colo um filho morto —
Todos nós embalamos ao colo um filho morto.
Chove, chove.

O sorriso triste que sobra a teus lábios cansados,
Vejo-o no gesto com que os teus dedos não deixam os teus anéis.
Porque é que chove?

(Fernando Pessoa, “Episódios: A Múmia, II”, Poesia (1902–1917), p. 436)

Último dia dos Jogos Olímpicos Londres 2012

OLIMPÍADAS


O sport é a inteligência inútil manifestada nos movimentos do corpo. O que o paradoxo alegra no contágio das almas, o sport aligeira na demonstração dos bonecos delas. A beleza existe, verdadeiramente, só nos altos pensamentos, nas grandes emoções, nas vontades conseguidas. No sport — ludo, jogo, brincadeira — o que existe é supérfluo, como o que o gato faz antes de comer o rato que lhe há-de escapar. Ninguém pensa a sério no resultado, e, enquanto dura o que desaparece, existe o que não dura. Há uma certa beleza nisso, como no dominó, e, quando o acaso proporciona o jogo acertado, a maravilha entesoura o corpo encostado do vencedor. Fica, no fim, e sempre virado para o inútil, o inconseguido do jogo. Pueri ludunt, como no primário do latim...

Ao sol brilham, no seu breve movimento de glória espúria, os corpos juvenis que envelhecerão, os trajectos que, com o existirem, deixaram já de existir. Entardece no que vemos, como no que vimos. A Grécia antiga não nos afaga senão intelectualmente. Ditosos os que naufragam no sacrifício da posse. São comuns e verdadeiros. O sol das arenas faz suar os gestos dos outros. Os poetas cantam-nos antes que desça todo o sol. São todos peixes num aquário cuidado de além do vidro pela inteligência que lhes não toca. E a beleza deles, como a de tudo, é isto — um movimento por detrás de um vidro, um brilho de corpo dogmatizado por uma clausura.

(Álvaro de Campos, Pessoa por Conhecer, vol. II, 308, pp. 347–348)

09 agosto 2012

67 anos do lançamento da segunda bomba atómica, sobre Nagasaki (1945)

A fúria minuciosa [...] dos átomos
A fúria de todas as chamas, a raiva de todos os ventos,

(Álvaro de Campos, Poesia, 34, p. 254)

06 agosto 2012

67 anos do lançamento da primeira bomba atómica, sobre Hiroshima (1945)

O vento levantou-se... Primeiro era como a voz de um vácuo... um soprar no espaço para dentro de um buraco, uma falta no silêncio do ar. Depois ergueu-se um soluço, um soluço do fundo do mundo, e sentiu-se que tremiam vidraças e que era realmente vento. Depois soou mais alto, urro surdo, um urrar sem ser entre um nocturno ranger de coisas, um cair de bocados, um átomo de fim do mundo.

(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 52, p. 85)

04 agosto 2012

434 anos Batalha de Alcácer-Quibir (1578)

«Pessoa e o Quinto Império»
Desenho de H. Mourato


O DESEJADO


Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto, sente-te sonhado,
E ergue-te do fundo de não-seres
Para teu novo fado!

Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,
Mas já no auge da suprema prova,
A alma penitente do teu povo
À Eucaristia Nova.

Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,
Excalibur do Fim, em jeito tal
Que sua Luz ao mundo dividido
Revele o Santo Graal!

(Fernando Pessoa, Mensagem, Terceira Parte, I, p. 165)

01 agosto 2012

Pessoa, sempre — todos os dias: Agosto de 2012

Calendário pessoano: Agosto de 2012

Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.